O Idílio.
Foi um namoro tranqüilo, macio, sem impaciências, arrebatamentos. Sob a inspiração paterna, ele planificou o romance, de alto a baixo, sem descurar de nenhum detalhe. Antes de mais nada, houve o seguinte acordo:
— Eu não toco em ti até o dia do casamento.
Edila pergunta:
— E nem me beija?
Enfiou as duas mãos nos bolsos:
— Nem te beijo. OK?
Encarou-o, serena:
— OK.
Dir-se-ia que este assentimento o surpreendeu. Insinua:
— Ou será que você vai sentir falta?
— De quê?
E Salviano, lambendo os beiços:
— Digo falta de beijos e, enfim, de carinho.
Sorriu, segura de si:
— Não. Estou cem por cento com teu pai. Acho que teu pai está com a razão.
Salviano não sabe o que dizer. Edila continua, com o seu jeito tranqüilo:
— Sabe que essas coisas não me interessam muito? Eu acho que não sou como as outras. Sou diferente. Vejo minhas amigas dizerem que beijo é isso, aquilo e aquilo outro. Fico boba! E te digo mais: eu tenho, até, uma certa repugnância. Olha como eu estou arrepiada, olha, só de falar nesse assunto!
O Velho.
Desde menino, Salviano se habituara a prestar contas quase diárias ao pai, de suas idéias, sentimentos e atos. O velho, que se chamava Notário, ouvia e dava os conselhos que cada caso comportava. Durante todo o namoro com Edila, seu Notário esteve, sempre, a par das reações do filho e da futura nora. Salviano, ao terminar as confidências, queria saber: "Que tal, papai?". Seu Notário apanhava um cigarro, acendia-o e dava seu parecer, com uma clarividência que intimidava o rapaz:
— Já vi que essa menina tem o temperamento de uma esposa cem por cento. A esposa deve ser, mal comparando, e sob certos aspectos, um paralelepípedo. Essas mulheres que dão muita importância à matéria não devem casar. A esposa, quanto mais fria, mais acomodada, melhor!
Salviano retransmitia, tanto quanto possível, para a namorada, as reflexões paternas. Edila suspirava: "Teu pai é uma simpatia!". De vez em quando, o rapaz queria esquecer as lições que recebia em casa. Com uma salivação intensa, o olhar rutilante, tentava enlaçar a pequena. Edila, porém, era irredutível; imobilizava-o:
— Quieto!
Ele recuava:
— Tens razão!
Catástrofe.
Um dia, porém, o dr. Borborema, que era médico de Edila e família, vai procurar Salviano no emprego. Conversam no corredor. O velhinho foi sumário: "Sua noiva acaba de sair do meu consultório. Para encurtar conversa: ela vai ser mãe!". Salviano recua, sem entender:
— Mãe?!...
E o outro, balançando a cabeça: "Por que é que vocês não esperaram, carambolas? Custava esperar?". Salviano travou-lhe o braço, rilhava os dentes: "De quantos meses?". Resposta: "Três". Dr. Borborema já se despedia: "O negócio, agora, já sabe: é apressar o casamento. Casar antes que dê na vista". Petrificado, deixou o médico ir. No corredor do emprego, apertava a cabeça entre as mãos: "Não é possível! Não pode ser!". Meia hora depois, desembarcava e invadia, alucinado, a casa do pai. Arremessou-se nos braços de seu Notário, aos soluços.
— Edila está nessas e nessas condições, meu pai! — E, num soluço mais,fundo, completa: — E não fui eu! Juro que não fui eu!
(...) Continua...
Comenta mais! *-*
ResponderExcluirO anjo pornográfico: clássico.
ResponderExcluirMal humorado, pornográfico (apesar de ser romântico), tricolor fanático e... gênio.
Muito bom vc postá-lo e conhecê-lo, parabéns.
abç
Lunaticools
Muito Bom.
ResponderExcluirAmeis eu Blog
ResponderExcluirestou te seguindo
me segue tbem
http://conexaoopop.blogspot.com/
bgs
aff, continua, marilia! estou louca para saber quem é o pai. adorei, adorei hduhasdiohadauhd.
ResponderExcluirPOSTAAAAAAAAAAAAAA-A-A-A-A-AAAAA!
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